No megafone: vai piorarNeila Baldi style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever">
Há tempos que minha vontade é pegar um megafone e gritar pelas ruas da cidade alguns disparates que vejo. A escrita da coluna virou meu megafone. Tento trazer para cá questões que acho pertinentes, relativos a temas da cidade, questões políticas e econômicas e, sobretudo, da crise sanitária. Tento olhar atentamente à minha volta e escolher o que acho que seja mais importante. Por causa da pandemia, venho lendo muito sobre, e acompanhado no Twitter epidemiologistas, infectologistas, cientistas, etc. Pois no final de semana, um "fio" do Isaac Schrarstzhaupt, cientista de dados e coordenador na Rede Análise Covid, fez eu comentar: vontade de gritar no megafone. EXPLOSÃO DE CASOS Ele nos lembra que, quando o Amazonas teve explosão em janeiro, nenhum Estado analisou a aceleração dos casos e tomou precauções - o gráfico do RS estava em alta desde 25 de janeiro. Resultado: houve uma explosão de casos e de internações, que fizeram o governo do Estado decretar a bandeira preta, em 25 de fevereiro (um mês depois do que víamos nos dados, ou seja, dava para ter interrompido antes). Quando a bandeira preta começou, eram 22 casos por 100 mil habitantes. A bandeira preta resultou em queda na mobilidade e, consequentemente, desaceleração no número de casos e de internações. No entanto, o que o Isaac nos mostra é o que aumento da mobilidade de forma precipitada - flexibilizações dentro da bandeira preta que, como eu chamo, vira cinza, de tanto que descolore - pode trazer aumento exponencial de casos de novo. Segundo seus cálculos, há 30 dias, havia uma desaceleração maior no número de casos e, há 10 dias - dados de domingo - essa desaceleração caiu. Ou seja, a velocidade de queda diminuiu, o que indica reversão de tendência. E qual o problema disso? O número de casos ativos ainda é alto - atualmente, segundo o professor Alexandre Zavascki, são 36 por 100 mil habitantes - e isso significa continuidade da transmissão. REDUZIR A TRANSMISSÃO O que o meu megafone quer dizer? Reproduzo um tuíte do Isaac: "Aumentar mobilidade em um patamar tão alto transformará a recém conquistada desaceleração, na melhor das hipóteses, em um platô de muitos óbitos. Como temos muitos casos, é altamente possível ainda voltar a subir rapidamente." Pergunto: Vamos nos acostumar com um platô de 3 mil mortes por dia no país? A reabertura de agora, nesses níveis, nos manterá mais tempo na bandeira preta e/ou nos levará a uma próxima restrição. Pior: estamos no outono e não reduzimos casos e internações. Vocês têm ideia do que vai ser o inverno? Meu megafone grita: Precisamos reduzir a transmissão!
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Joaquim, Isabella Nardoni,Bernardo, Rhuan e Henry Noemy Bastos Aramburú style="width: 25%; float: right;" data-filename="retriever"> Esta semana, a imprensa focou no crime bárbaro praticado pelo padrasto, o vereador Jaiminho, e pela mãe, professora Monique, de um menino inocente. O casal de classe média, teve o apoio do pai do vereador para acobertar o assassinato covarde de Henry, uma criança de apenas 4 anos. O que está acontecendo com o mundo? A Covid não ia tornar as pessoas melhores? Parece que não. Pelo menos estes atores têm mostrado que a Covid não conseguiu esta façanha, a de tornar o homem mais humano. Até quando vamos assistir a crimes como o de Henry, Joaquim (3 anos, em Ribeirão Preto), Isabella Nardoni (5 anos, em São Paulo), Bernardo (11 anos, em Três Passos), Rhuan (9 anos, no Distrito Federal)? Infelizmente, não temos esta resposta. Mas algo me chama a atenção. São pessoas de classe média, que não passaram por provações econômicas, mas com certeza privações de outras ordens. Os mais antigos, em suas brincadeiras de criança, brincavam de jogo de dado, cinco Marias, varetas, sapata, onde aprendiam a ganhar e a perder, isto é, administrar suas frustrações. Também se divertiam ouvindo histórias antes de dormir, como o conto do Joãozinho e da Mariazinha. Neste, aprendiam que crianças devem observar o que está ao redor para não se perder, que os pais passam por privações, mas que podem ajudar a família e que tudo acaba bem com a família reunida. Era muito ouvida também a história da Branca de Neve, onde aprendíamos que o amor e a compaixão salvam, como os anões salvaram a Branca de Neve. E a do Gafanhoto e a Formiga, onde a formiga, que trabalha, fica quentinha no inverno, enquanto o gafanhoto, morre em razão do frio, passando às crianças a ideia de que os bens materiais são adquiridos através do trabalho. Estas brincadeiras e fábulas não foram jogadas aleatoriamente, mas criadas após longo estudo, mecanismo que transmite valores, crenças, atitudes e normas sociais. Assim, as crianças, desde a tenra idade, e os adolescentes, vão apreendendo enquanto brincam e ouvem histórias, tornando os aprendizados parte de suas realidades, ainda que de maneira intrínseca. Hodiernamente, as crianças não se entretem mais com brinquedos lúdicos, muito menos as famílias têm se reunido para contar aos filhos estas histórias, o que tem produzido faltas no comportamento dos atuais adultos. Muitos deles não aprenderam a lidar com suas frustrações, como acontecia ao perderem nos jogos e brincadeiras. A simplicidade era tanta, que, muitas vezes, meninas e meninos jogavam bola descalços na rua, e os meninos cuidavam para não machucar as meninas, por serem meninas. Hoje, eles a machucam porque elas terminaram um relacionamento com eles, contrariando suas vontades. É inconteste que a modernidade facilitou nossas vidas, porém é inconteste, que os valores e a educação são atemporais. Temos que cuidar dos nossos filhos, para que, quando adultos, não nos envergonhem.
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